Contrato de Paz

(Escrito a 19 de abril de 2022 em Castelo Branco)

Tenho de ir ao Castelo
escrever um poema,
um poema como se estivesse à beira-mar.

Subi ao Castelo,
vi as nuvens,
abracei a torre ferida.

Ouvi o vento
contar histórias às árvores:

elas ouviam-no e choravam,
agitando as folhas.

No Castelo me sentei
e com as pedras
um contrato de paz assinei.

Neusa Veloso

Café Divagação

Em casa, mesa da sala junto à janela, Castelo Branco
6 de junho de 2022

Perdi-me no caminho e sentei-me para beber um café;
O mapa não se traçou na bebida quente, como aguardava.
Fico sentada a olhar o pomar que não me pertence;
O café arrefece, o mapa continua ausente, os pássaros brincam no céu.
A corda de estender a roupa rompeu;
Terá sido pelo peso dos poemas que lá pus a secar?
As antenas plantadas nos telhados falam comigo;
Estão cansadas de morar no último andar sem elevador.
O verão está à porta e as moscas proliferam;
Zoando, zoando, desafiam a minha paciência.
Já não há café;
O mapa não apareceu, desenhei caminho na imaginação.
As plantas têm sede. Dou-lhes de beber?
Nunca tive muito jeito para amamentar plantas.
O poeta tecla no vazio;
Não é só querer, é as palavras decidirem
Ponto final.

Neusa Veloso

SANTIAGO

Igreja de Santiago, Castelo Branco
Missa semanal, 8h30
8 de março de 2022

Há coisas simples, carregadas de esplendor.
Há coisas breves, abundantes de eternidade.
Palavras acordam o coração dormente,
despertam o corpo entorpecido.
O céu prepara-se para molhar a terra,
a chuva tão esperada vai cair esta tarde.
O sagrado habita cada esquina,
por nós espera, sem se cansar.
Há Luz no meu caminho.

Neusa Veloso