Em casa, mesa da sala junto à janela, Castelo Branco
6 de junho de 2022
Perdi-me no caminho e sentei-me para beber um café;
O mapa não se traçou na bebida quente, como aguardava.
Fico sentada a olhar o pomar que não me pertence;
O café arrefece, o mapa continua ausente, os pássaros brincam no céu.
A corda de estender a roupa rompeu;
Terá sido pelo peso dos poemas que lá pus a secar?
As antenas plantadas nos telhados falam comigo;
Estão cansadas de morar no último andar sem elevador.
O verão está à porta e as moscas proliferam;
Zoando, zoando, desafiam a minha paciência.
Já não há café;
O mapa não apareceu, desenhei caminho na imaginação.
As plantas têm sede. Dou-lhes de beber?
Nunca tive muito jeito para amamentar plantas.
O poeta tecla no vazio;
Não é só querer, é as palavras decidirem
Ponto final.
Neusa Veloso